Friday, July 16, 2010

1 460 dias

Acordei suado da noite, descoberto, em calafrios. Tinha sonhado que vivia num mundo no qual a liberdade nao passava de uma janela aberta entre os preconceitos do mundo real e os presupostos da minha mente, quais puras traducoes impostas por um sistema despotico, pobre e embrutecido. Estava tudo mal. Tinha feito tudo errado.
Tinha quebrado as barreiras temporais do impossivel e talvez, ate as barreiras da razao. Quantas vezes segui aquilo que pensava ser loucura, insensatez pura, solidao dolorosa, para descobrir que so assim era feliz, quando era feliz. A recompensa primordial da viagem sempre foi a viagem em si.
Acordei suado das batalhas travadas com os fantasmas das oportunidades, os demonios das opcoes e as sombras do passado. Visitei um “alter-ego”, numa dimensao oposta ao rumo da minha propria vida. Este “outro eu” que virou a esquerda onde eu fui a direita, que sorriu quando eu chorei, que disse sim quando eu disse nao. O "outro eu" comodista em tempos de rebeliao, que foi noite quando eu fui dia, que foi carneiro quando eu fui leao.
Acordei suado, em calafrios, amedrontado por nao reconhecer nada ou ninguem.
Acordei. E tu? Onde estavas? Corri para o teu quarto. Dormias como sempre, um sono profundo e calmo de quem dorme sem temer. No teu rosto adormecido, encontrei a luz pulsante do meu farol preferido. Es astrolabio, quadrante e balestilha. Es a minha ancora num porto distante e escondido.
Es a parte da viagem que da sentido a viagem.
Obrigado, minha filha, por tudo o que me tens ensinado.
Parabens para ti, nesta data querida.


(Photo by Bernd Zeugswetter)

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